
Quando a saudade maleva
guasqueia forte o meu lombo,
de supetão dou-lhe o tombo
e espanto a guecha algariada,
numa charlita animada
com a boca de meu porongo.
Muitas vezes, tironeando,
busco a sombra do galpão,
vou remechendo um tição,
acordo as brasas soprando,
e a chama vai levantando
do "pai-de-fogo" no chão.
Chego a brasa no crioulo,
depois encosto a chaleira,
vou direito à prateleira
e com carinho destampo
a lata, cheiro de campo,
da erva boa da Palmeira.
Palmeio o velho porongo,
derramo a erva com jeito,
encosto a cuia no peito,
batendo a erva pra um lado;
com os dedos enconchados
formo um topete bem feito
Com um pouquinho de água morna,
que despejo com cuidado,
tenho o amargo ajeitado,
que ponho a um canto, pra inchar;
espero a água esquentar,
pitando um baio sovado.
A pava chiou no fogo,
encho a cuia que promete;
a espuma se arremete,
vem pra cima borbulhando
e, acariciante, beijando,
engrinaldeia o topete.
Agarro a bomba de prata,
tapo o bocal com o dedão,
calço o bojo no chão
da cuia e vou destampando
a bomba, que vai chupando
um pouco do chimarrão.
Derramo outro tanto d’água,
o que ainda aumenta o calor,
e o mate confortador
vou sorvendo em trago largo,
pois me saiu um amargo
despachado e roncador.
Encho outra vez o porongo,
vou tragueando lentamente,
e escuto, nitidamente,
como um chamado ancestral,
um murmúrio paternal
falando na seiva quente:
"- Meu filho, levanta a testa,
porque a vida é um desafio.
Se o teu presente é sombrio
e já sentes, mermando,
teu coração balanceando
dentro do peito vazio;
se amores e ideais alçados
muito te custa esquecer,
e se estás a envelhecer,
a mocidade chorando,
não esquece que lamentando
jamais o fará volver;
se pelecharam teus sonhos,
amananciados em criança;
se assististe à matança
de tua última ilusão,
nota bem o chimarrão:
tem o verde da esperança"!