
Fonte: saudecomvidas.blogspot.com
Te campeei, fazendo a volta
por detrás do pé de angico,
e me acomodei, solíto,
admirando a tua beleza.
Noite adentro, vela acesa
conduzindo os passadores:
crianças, velhos e campeadores
se guiando à tua luz.
Neste vagar, contemplando,
gasto o tempo filosofando
esta atração irracional;
triste sina de um indio bagual
enrrabichado por uma prenda,
encravada, como uma lenda,
na sua estampa de peão.
Recostado no angico,
não sente frio nem calor.
O tempo vai abrandar a dor,
no peito deste campeiro;
que já viveu muitos janeiros,
mas não aprendeu a amansar os sonhos.
Vagueio livre como o vento,
que sopra guasqueando a mata,
admirando a lua de prata
no alto de seu entono,
sismando um dia ser dono
dos olhares da morena.
Sismando passa o tempo.
E nesta sisma perco a hora,
me esqueço de ir embora;
e se achega a madrugada.
Quem passa uma noite agitada
perde o rumo dos pensamentos
e se esparrama aos quatro ventos,
numa lamúria abarbarada.
Olhando pra ti, lua guria,
achei o cabresto da alma,
enquanto este fogo se acalma
vejo o sol na minha retina;
e tu, lua menina,
vais sumindo, de mansito,
enquanto o sol brilha solito
nesta manhã de primavera.
Comecei, então, a entender
este compasso astral,
que, talvez, seja um sinal
do meu Deus lá das alturas;
mesmo encurtando as lonjuras
somos de mundos diferentes,
fluindo em duas vertentes
que jamais se encontrarão.
Num upa salto ao lombilho
do baio que me amadrinhou,
e enforquilhado me vou
apreciando as flores da estação,
colorindo o meu rincão
à luz de um sol de novembro.
Sinceramente, não lembro
de outra manhãzita igual.
Embaixo deste sol bonito
e acomodado nos arreios,
entendi que somos meios
procurando outra metade;
e a lua, por vaidade,
se escondeu quando te viu.
Vais brilhar dias inteiros,
em tantos verões de janeiro,
mas dela só verás o vulto;
e terás que manter oculto,
o teu amor a vida inteira.
Ao passo lerdo tranquiado
todo dia tu despontas,
tentando acertar as contas
com o descompasso do tempo.
Mas tu, sol que ilumina,
seguirás a tua sina,
viverás, eternamente, solito.
Então, sigo num grito
em direção ao rancheriu.
Pois, a lua o sol não viu
e nunca verá, jamais;
parceiro, somos iguais
nesta louca idolatria.
Eu, amando esta guria.
E tu, pela lua apaixonado.
Vamos morrer separados
destas prendas arredias,
que nos roubaram as alegrias
e manearam nossos desejos
de, por um minuto, laçar seus beijos
na invernada grande da vida!