Este tobiano de estância
foi o bicho mais maleva
que o diabo inventou pra um peão:
zólhos de chancho, cabano,
sargo, coiceiro, aragano,
manoteador e bufão!
Peão que chegasse atrasado
na segunda, mui sovado
da farra pelo rincão,
já se sabia: a sua pena
era encilhar o ventana,
que ansim mandava o Patrão!
Uma feita - era segunda -
na estância, ao clarear do dia,
com cara de laço novo, cheguei;
já estava meu povo na mangueira.
E alguém gritou, quando já davam cavalo:
- Lace o tobiano capincho,
pra esse que vem dos bochincho
do Rincão do Cantagalo!
Que sina! Se eu tinha o peito
mais puro que a Estrela D'alva,
que bico de beija-flor!
Qual bochincho, se eu voltava
de ver a prenda que amava,
todo enredado de amor!
Virge do céu! Será o diabo!
Um cristão que andou bailando
por duas noite e treis dia,
com no ouvido as harmonia
da cordeona retrechando,
e o coração sarandeando
numa havanera macia!
Nos olhos tontos de sono,
como em espelho pequeno,
aquele corpo moreno,
com crespos que o vento bate;
e o auroma: Ã flor e a sereno,
que vêm na prosa em cochicho.
- Que auroma! Não vi em bolicho
nem nos baús dos mascate!
E os negros olhos ariscos
como iraras bobeaderas
nas poças que a seca embarra,
na sombra de um caponete;
e que maneia ginete,
como pealo de cucharra!
Quanta coisa ela me disse
não dizendo quaje nada!
Quanta coisa ela entendeu,
da minha boca cerrada:
porteira do coração!
E, agora, eu, moço monarca,
chego batendo na marca,
no meu ofÃcio de peão!
Bonito! Agora, acordar
de um sonho que é um lindo engano!
Soltar o corpo franzino,
em que envidei meu destino,
pra me trompar com o malino,
que é este capincho tobiano!
Chego e: - Bom dia, Senhores!
Largo, já meio covarde;
e me respondem: - Boa tarde!
Dormiu nas palhas, paissano?
Largue esse! Traga o buçal!
La putcha, que é desigual
a sorte de um campechano!
Vinha o tobiano no laço
como dourado na linha;
ligeiro como tainha,
como traÃra de açude;
dando mais pulos e saltos
que um calcuta na rinha!
Haaa! Quando a sorte é mesquinha
não hai feitiço que ajude!
Pra encilhá o venta rasgada
foi abaxo de oração!
E, já maneado e enfrenado,
foi luita pra arreglá os troço!
Rezei quatro Padre-nosso
só pra sentar o xergão!
Cheguei a carona e os basto;
e quanto a cincha tinia,
o infame se foi pra o céu;
voltou, tombou de boléu.
Quaje perdendo o chapéu,
rezei quatro Ave-Maria!
E o urco como um bodoque:
traiçoero, olhando pra trais,
com a cincha no osso do peito!
E eu le ajeitando, com jeito,
por causa do capatais!
Depois de bem encilhado
tranqueou, com passo de tango,
muito mal intencionado:
encolhido e retovado!
Eu vi minha vida pequena;
corri os olhos na chilena
e olhei pra tala do mango!
Na voz de – bamos, moçada!
campeei a volta e montei,
certito e firme nos basto!
Já o bicho se vinha urrando,
ladeadito, se brandiando,
como quatiara de arrasto!
Nóis fumo naquela toada,
nessa dança desgranida
em que um taura arrisca a vida
só pra honrar a patacoada!
Despois, de focinho gacho,
agarrou ladeira em descida,
na fúria despavorida
de um touro num costa-abaxo!
Me encomendei pro Senhor,
também pra Virgem Maria!
Nem sei como arresestia,
ansim, blandito de amor!
E sem amadrinhador,
nesse lançante tremendo,
me fui solito, me vendo
mais triste que um payador!
Rodou e ficou roncando, quebrado!
É o fim do Capincho!
E eu paradito e com tino,
a pensar desta maneira:
- Por ti, a mais linda triguera,
gineteio a vida intera
no lombo do meu DESTINO!