
Em nosso viver de andejos, Companheira,
eu nada te prometi, tão sem juras,
tão sem compromisso, tão irresponsável;
sempre gauderiando lonjuras, solitos.
E com o passar do tempo,
tu te acostumastes
com o meu destino vaqueano,
vencendo as distâncias,
encurtando caminhos, fazendo atalhos
nesse Rio Grande velho sem porteiras.
Sempre, sempre compreendestes
as minhas manias, sem reclamar,
sem chorar; com o teu silêncio tão cálido,
tão imenso, tão intenso,
como uma paz duradoura.
Mas, quando necessitei de ti,
nas tropeadas mais difíceis da minha vida,
eu te tive tão parceira, tão compreensiva,
tão paciente, tão confidente, tão amiga.
Na hora em que eu bombeava tristezas
e que busquei respostas
para a minha tropilha de carências,
tu me acolhias, tão querendona,
em teu remanso tão afetivo, tão cálido,
tão cheio de existência,
tão repleto de paciência.
Nesse momento, então,
deitados em meus pelegos,
tu me afagavas. Ah! Teus afagos
tão cheios de mimos carinhosos, tão íntimos,
tão místicos, tão aconchegantes,
tão irreais, tão meus.
Mas, quando meus pensamentos vaqueanos,
cheios de malícia, me faziam sonhar,
eu me achegava ao teu corpo,
tão repleto de segredos, tão transparente,
tão abundante de promessas,
tão vazio, tão cheios do nada.
Aí, então, eu disparava em carreiradas
e atropelos loucos, sempre ao teu encontro,
em busca da felicidade;
mas não a encontrando, caía na realidade;
e ficávamos tão juntos, tão ajoujados,
como fôssemos um só; tão amantes,
tão ofegantes, tão entregues; acolherados,
tão pobres de afeto, tão sós.
Por isso, Eu e Tu, somente,
juntos nesta campeirada da vida,
tão iludidos em busca
de uma querência só nossa;
iniciando partidas, buscando chegadas
pra conquistar horizontes;
tão sonhadores, tão nós mesmos,
tão nós dois: SOLIDÃO!