
Foto: Cláudio Vaz
Toda noite, quando deito,
começo logo a recordar
os meus tempos de campanha,
os meus amigos de infância
que a cidade me fez deixar.
Viver e sonhar, enfim,
meu eterno brincar é assim:
"Ciranda, cirandinha,
vamos todos cirandar.
Acabou a nossa lida!
Vamos! É hora de brincar!"
Com seu tapete de folhas,
o pátio está chamando,
pois o outono está chegando;
a laranjeira carregando
precisa de crianças arteiras,
para movimentar a paisagem,
tão serena e trigueira.
Vejo a Noca, com a boneca;
com a peteca o João.
Paulo e Juca jogam bolitas;
Luiz brinca com o caminhão.
Enquanto Neusa lá, solita,
Quieta de casinha brinca.
Lá vem a Terezinha,
com suas cinco-marias,
catadas no rio, uma a uma,
todas feitas de pedrinhas
escolhidas com carinho,
todas elas redondinhas.
Vejo Ernesto pendurado
num balanço feito de corda,
que com seus gritos quase acorda
Vovó Nena, que sesteia.
Em um canto, lá na areia,
Guto armou a arapuca.
Vai meter a mão em "cumbuca",
pois seu pai vai chegar;
e com certeza não há de gostar
desta brincadeira maluca.
E eu, em roda, sigo brincando
com os meus mais belos pensamentos,
que não me abandonam um só momento,
quando o sono está a chegar.
Ah! Que saudades eu tenho dos
meus tempos de campanha...
Só me resta, então, por fim,
fechar os olhos e sonhar,
pois meus sonhos de criança
ninguém... ninguém vai roubar!