Eu sabia que virias,
com toda fúria indomável,
cobrar o tanto que a vida
devagar te veio usurpando...
Pois a mão cruel e implacável
deu-te essa tez de amargura
e as mÃseras somas da sorte,
que te estampam a figura.
Eu sabia que virias
retribuir o logro e, agora,
para fora, transbordarias
sobejos acumulados.
É o vil metal pelas águas,
o lixo drapejando o chão,
é o fogo das queimadas,
a poeira dos pesticidas,
é a morte no dobre da mão
conduzindo ao assoreamento,
são as brutais enxurradas
e lixos de alagamentos,
nas chagas da poluição!
Eu sabia que virias;
que, sem nenhuma pena,
serias o braço crucificador
e tua ira manifestarias:
pelo furor das tormentas,
pela aridez dos desertos,
pela fúria dos terremotos
e no uivo das ventanias...
Pois teu brado libertador
eclode em cada semente:
na relva que timbra os campos,
quando concedes beleza
acordando as estações;
nas floradas primaveris,
nos invernos que enrigelam,
no outono das colheitas
e nos mormaços dos verões.
Eu sabia que virias,
pois és da vida genitora.
És maestra das melodias
canoras de cada pássaro.
Transmuda-te em esperança,
na emoção feito poesia.
És natureza redentora,
renascendo ao sol dos dias;
Mãe das águas e do ar,
Mãe da terra, Mãe zelosa,
dos teus filhos... provedora!