UMA ANÁLISE DE O CONTINENTE Flávio Loureiro Chaves*
"Uma crônica de sangue pontuada por sucessivas guerras, eis o cenário onde brota a gênese da Província de São Pedro. Ao início de O continente, no episódio de Ana Terra, o espaço físico foi inteiramente destruído após um ataque de castelhanos que massacraram todos os homens válidos da fazenda de Maneco Terra. Sob a imensidão do campo, duas mulheres e duas crianças sepultam os seus mortos. Desses escombros surge a personagem de Ana Terra, armada de uma confiança absurda em si mesma, que se integra na caravana pioneira para fundar, muito distante, a vila de Santa Fé. Com ela segue o filho, que será o pai de Bibiana; e assim fica assegurada a continuidade da vida. A mesma intriga, distribuída por diferentes níveis de temporalidade, repete-se várias vezes na sucessão de gerações de Terras e Cambarás. (...)
Na personagem Ana Terra se reedita o primeiro dia da criação, a imagem primitiva da fecundação, enquanto antítese da morte. Diz Erico: 'Penso nela como uma espécie de sinônimo de mãe, ventre, terra, raiz, verticalidade, permanência, paciência, espera, perseverança, coragem moral.'
Há um estranho paradoxo em O continente. Essa epopéia, cuja linha episódica foi traçada no encadeamento dos feitos guerreiros, parece ter sido escrita para reafirmar a insanidade da guerra. Enquanto a seqüência cronológica avança mediante lutas fratricidas entre Cambarás e Amarais, a visão de mundo do autor, sua crença nos valores permanentes da vida, está expressa na saga de Ana Terra e nos silêncios de Bibiana."
Árvore genealógica de O continente |
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