
Foi no lombo do cavalo,
foi a tiro de garrucha,
foi na lança e foi na espada
que formou a Marca Gaúcha.
Pra dar a templa no ferro
foi na forja e na marreta,
pra desbravar meu Rio Grande
sobre rodas de carreta.
Assim se fez este pago,
planície, serra e coxilhas,
cavalgando campo e mato
com a força dos Farroupilhas.
Pra nossa Marca Gaúcha
ser hoje em dia o que é
custou luta, sangue e vida,
desde os tempos de Sepé.
Desde os padres jesuítas,
os heróis dos Sete Povos,
na força de índio e negro
construindo tempos novos;
pra o comércio primitivo,
matadouro e saladeiro,
os birivas e os mascates
cavalgavam o dia inteiro.
O fio da faca prateada,
que hoje só corta churrasco,
já cortou muito pescoço
na lida de algum carrasco;
ao fazer um prisioneiro,
no grito de pega e puxa,
por falta de bala e chumbo
levava a Marca Gaúcha.
Depois de lutar 10 anos,
abraçados na bandeira,
voltaram os Farroupilhas
defender nossa fronteira;
retomando a nossa Terra,
Palomas e Dom Pedrito,
arrastando os Corrientales
a pelegaço e no grito.
De Norte a Sul do Rio Grande,
do litoral à fronteira,
ainda se encontram os rastros
da brava gente guerreira.
E pra mim, que fui criado
bem nas márgens do Uruguai,
herdei a Marca Gaúcha
dos ancestrais de meu pai.
Sou do tempo dos tropeiros,
noite de ronda e mateada,
dos bailes de chão batido,
do rodeio e carreirada.
E pra essa vida moderna
ninguém me leva ou me puxa,
porque honro as tradições
da nossa Marca Gaúcha.
Madrugada, canta o galo,
e faz tempo que estou em pé,
pra tomar meu chimarrão
e uma cambona de café.
Depois vou lá na mangueira
tirar o leite pra o queijo.
Nessa hora minha prenda
vem trocar leite por beijo.
Depois da “vaca atolada”,
carreteiro ou mocotó,
cachaça de Santo Antônio
vai quase num gole só.
Churrasco gordo na brasa
e a prenda linda e quentucha,
são coisas que me confortam
na nossa Marca Gaúcha!