
Nasci crioulo nessa plaga campechana,
que se esparrama pelas várzeas e coxilhas;
guasca terrunho com a alma aragana,
raça pampeana da estirpe farroupilha.
Cresci solito, de a cavalo na cancela,
e sobre a sela ajustada no lombilho;
sempre vivendo sem luxo e sem floreio,
com meus arreios, esporas e cabrestilhos.
Por andar há tanto tempo enforquilhado,
tô meio arqueado e com as pernas cambotas;
marca baguala de quem vê o mundo de cima
e sabe o clima das planuras e das grotas.
Moldei meu corpo no galope e no trotear,
pra me ajustar como ginete e homem;
tendo rijeza na cabeça e nos braços,
e no espinhaço, até donde perde o nome.
Por isso tenho esse jeitão abrutalhado,
abarbarado desde o próprio linguajar;
é o crioulismo que chega mostrando a fuça
e escramuça na forma e no pensar.
Vivo peleando as mazelas desta vida,
na dura lida de campeiro e changueador;
me destrinchando entre o campo e a lavoura,
estrada a fora derramando o meu suor.
O meu suor tem cheiro de terra e macega
e escorrega pelo lançante abaixo;
vai encharcando couro velho com pelama,
da cabelama até o fio do barbicacho.
Para matar a sede a água da vertente,
que sorvo quente num amargo chimarrão;
para matar a fome um churrasco gordo,
que faço e mordo engraxando tudo a mão.
Para me impor carrego as armas na cintura,
porque bravura e atenção nunca é demais;
pra respeitarem trato todos com respeito,
que sou sujeito de coragem e boa paz.
Para viver protegido a Cruz de Lorena
e a cantilena para o meu Jesus Cristinho;
para guiar meus passos a estrela boeira,
que pelas beira ilumina o meu caminho.
Para bem me conduzir o cavalo amigo,
que eu bendigo sempre todo santo dia;
de companhia o velho cusco companheiro,
o fiel parceiro de rusgas e alegrias.
Para seguir um tanto folheiro e disposto,
carrego o gosto do beijo de uma china.
É bem assim que passa o tempo o índio puro;
e o futuro o Patrão Velho determina!