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23/09/2010
12:22:20 |
REFLEXÕES DE UM GAÚCHO |
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Uruguaiana - RS
O que se passa, afinal? Será que estou invisível ou vocês são meu delírio? Será que ninguém me vê, com este baita chapelão e um cavalo de monarca? Ou eu estou transparente ou vocês são todos cegos!
Aqui estou. Aqui estou, com centúrias de História e quilômetros de campo; geografia conquistada sobre o lombo do cavalo. Mesmo assim, ninguém me vê... Todo mundo me ignora!
Quantas vezes já morri peleando com castelhano, por uma nesga de mapa? Quantas vezes me mataram por desafiar o Império, GRITANDO que estou aqui! Mesmo assim, ninguém me vê...
Quantos vagões de seara distribuí pelo país, quando o pampa era um celeiro sangrando safras douradas pra deleitar os tiranos? Me mataram tantas vezes quando, judiado de sal, eu tinha o ouro do charque que engordava os navios.
Enquanto o velho Império lambuzava-se na corte, me deixando ao Deus-dará nos confins das sesmarias, quem digladiava de adaga com o paisano invejoso que bolinava a fronteira?
Eu sempre estive presente; não declinei das peleias; eu nunca fugi da raia nem me encolhi no tambor. Quando a causa era a Pátria, que se formava no Sul, quando o ideal era o homem espoliado pelo homem, sempre estive por aqui. O vermelho na bandeira, foi meu sangue que tingiu.
Eu não nasci brasileiro, mas me tornei por vontade num tempo de formação, quando paisano e patrício se mesclavam pelo pampa, sem limite e identidade...
Eu, sim, morri de lança na mão pra erguer esta Nação, que há muito me despreza desde tempos ignotos. Sendo o Garrão do País, eu sustento sobre o ombros esta Terra-continente.
Mas, talvez, me menosprezem porque eu seja diferente, porque me visto de História; e de bota e de bombacha me enforquilho sobre um potro, transpassando mais um século; contrariando a ganância da Matriz que não me vê!
Mesmo assim, de qualquer jeito, vou morrer mais uma vez; e quantas vezes quiserem... Não pra me separar, pois a escolha foi minha... Vou morrer mais uma vez, se assim preciso for, pra continuar brasileiro de mestiçagem chirua.
Só não me peçam, jamais, pra renegar as origens; nem tentem, de forma alguma, me tirar a liberdade, porque mesmo ignorado, invisível, transparente, eu vivo pelo Brasil, mas morro pelo Rio Grande! |
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Autor:
Vaine Darde |
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Poesia enviada Por:
Bombacha Larga - BrasÃlia / DF |
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Observações:
Poesia interpretada por Antônio D. Barbosa, amadrinhado por Henrique Scholz, na 12a Quadra da Sesmaria da Poesia Crioula de Osório-RS. |
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