
Na invernada da lembrança
cortei o rastro da História,
risquei de esporas a memória,
volteando a tropa do tempo;
e me enfurnei noite a dentro
num grande campo sem fim,
buscando a semente xucra
para saber de onde eu vim.
Andei parando rodeio,
refazendo as trajetórias
com derrotas e vitórias
caramuru ou farroupilha,
a pura cepa caudilha,
que nunca negaram o sangue,
mesclando a raça pampeana
com guaranis e cainguangues.
Cavalguei buscando o mapa
da minha própria geografia;
fui me ver quando nascia
índio xucro e abarbarado;
e ao receber o legado,
que hoje é minha querência,
eu comecei a entender
o porque de minha existência.
Por ser tão xucra assim
minha descendência gaudéria,
uns dizem que vim da Ibéria,
sou cruzado com beduíno,
e neste pampa sulino
raízes fundas finquei,
cruzando raças e sangue
gaúcho me transformei.
Cortei mapa e fiz fronteira
à adaga e ponta de lança,
recebendo como herança
esta minha terra sagrada,
que vem sendo perpetuada
pelos anais da existência:
Rio Grande, pátria gaúcha,
onde nasci e fiz querência.
Hoje, aqui me encontro
justificando meus atos,
se fui chimango ou maragato
a história já me julgou;
e o cerne que aqui ficou,
coisa pura e de valor,
sustenta as cores pampeanas
do pavilhão tricolor!