
Noite enluarada de inverno,
tudo se aquieta e se acalma;
não se vê uma viva alma
pelos campos e canhadas;
a natureza entorpece,
cai no sono e adormece
se cobrindo com a geada.
É um quadro de beleza
neste clima frio e rude;
mescla o azul dos açudes
com o verde intenso da mata;
funde um tempero de cores;
parece que nascem flores
sobre uma tela de prata.
O frio é de encarangar,
cachorro não bate rabo,
o guasca precisa de um trago
e a pura vem a preceito,
chega a aquentar as orelhas,
que num trago de volta e meia
faz bem e conforta o peito.
Nos campos há um silêncio,
como se fosse magia;
quero-quero não vigia;
a natureza se cala,
parece que está com medo
de revelar algum segredo.
É noite de alma penada.
De quando em quando um soluço
quebra, por vez, o encanto.
É o rio, no seu remanso;
num rastejar de serpente,
parece que se embebeda,
tropica em cima de pedras
e se lamenta, como gente.
O gado recolhe cedo
para o ventre dos capões.
Noite fria em que os fogões
vão aquecendo os viveiros,
no clima dos aconchegos,
onde as camas de pelegos
são tarimbas pros campeiros.
Noite enluarada de inverno:
tudo se aquieta e se acalma...