
Meu velho São João Batista,
pedaço deste Rio Grande,
aonde a história se expande
nas taipas de pedra bruta,
com cicatrizes da luta
por esta terra bendita;
e o sangue índio e jesuíta
regaram a poeira vermelha,
mantendo viva a centelha
do ideal nativista.
Teu benfeitor, o Padre Sepp,
grande gênio em construção,
alicerçou sobre o chão
este teu templo sagrado,
pedra-a-pedra levantado,
Casa de Fé e Oração;
e o guarani, agora cristão,
senhor do campo e da terra,
recostou as armas de guerra
pra receber comunhão.
E o velho padre pioneiro,
alma envolta em couro cru,
separou das pedras do itacuru
o ferro pras reduções.
E nas igrejas das missões
os corais entoaram hinos;
nas forjas surgiram os sinos,
badalando aos quatro ventos,
num medonho chamamento,
trançando o próprio destino.
E a primeira fundição
surgiu no chão da querência,
com trabalho e persistência
e o suor de muitos guerreiros,
mostrando que o missioneiro
era guardião e operário,
e a pampa xucra o cenário
de orquestras e corais,
com doze sinos baguais
a estremecer o campanário.
Tiro uma lasca do tempo,
pra rever tuas olarias;
e nas brancas sesmarias
vejo o algodão que floresce,
na erva-mate que cresce.
O teu povo, em procissão,
reza, canto e chimarrão
com gosto de liberdade;
e a seiva da igualdade
mateando na redução.
Bendito sejas, São João,
pra sempre serás abençoado,
que embora um vil tratado
destruiu templo e cidade,
vem dizer pra mocidade
que as taipas são divisórias,
marcando tua trajetória
rumo ao progresso infinito,
ficando teu nome escrito
na trança xucra da história!