Eu não sabia que te amava tanto,
pois na campanha, quando um homem sonha,
tem pouco tempo pra cuidar do campo.
Depois, tu sempre foste tão presente,
que eu jamais te vi ausente
pra saber se te amava!
Mal rompia a aurora
e eu já ouvia os teus passos pela casa,
querendo fazer silêncio,
com medo que eu despertasse
e te surpreendesse, às voltas,
sem ter fogo no fogão
e um mate bem cevado!
Nunca senti falta de ti,
pois nunca me deixaste faltar nada;
tão grande era o teu zelo
com a minha indiferença,
que tu sabias de cor
todas as minhas manias;
que tu fazias feliz
todas as minhas vontades,
como se o amor me concedesse
esse direito absurdo
de ser o senhor da casa!
Eu nunca precisei exigir nada,
e nunca nada pedi.
Tu, sim... estavas sempre pronta,
sempre alegre e disposta,
me dando tudo de ti!
À noite, na penumbra do candeeiro,
bueno, aí eu dava atenção
para o teu corpo moreno
sempre disposto a tudo,
cativo dos meus desejos!
Então, me explicas, Mimosa!
Como é que eu saberia
que aqueles beijos no catre,
a prosa adoçando o mate
na hora do sol se pôr?
Como é que eu saberia?
Te juro que eu não sabia
que aquilo tudo era amor!
Diacho, como isso dói!
A lembrança é um ferro em brasa
que queima a gente por fora,
deixando marca por dentro!
Parece bem que estou vendo
a atenção dos teus cuidados,
quando vinhas, de mansinho,
trazendo um mate cheiroso
e mil promessas nos olhos,
para sentar no meu colo,
qual um bichinho assustado.
Eu pensei que fosse assim:
que os homens e as mulheres
apenas vivessem juntos
para tomar mate e dormir;
que os homens fossem pra o campo
lidar com potro e lavouras;
e as mulheres, bem, as mulheres,
as mulheres fossem feitas
pra ter filho e cuidar casa.
Meu Deus do céu! Que pecado!
Como eu te amava, Mimosa!
Mas tu nunca quebraste um prato,
tu nunca viraste o rosto
nem nunca negaste nada!
Mesmo quando eu chegava
borracho dos bolichos,
ou vinha de madrugada,
com cara de sorro manso, duma fuzarca,
de baile ou cambicho com percanta,
tu ainda me esperavas com café e bolo frito;
e, no más, choramingavas baixinho
pra não perturbar meu sono!
Tu, sim, mocinha,
tu não me amavas;
tu eras louca por mim!
Quantas vezes me ajudaste
a apear do cavalo,
porque eu não tinha vergonha
de beber até cair,
e me levavas pra o rancho.
E, com paciência de mãe,
descalçavas as minhas botas
e tirava a minha roupa;
até banho tu me deste!
Tu me perdoas, Mimosa!
Mas eu sempre fui canalha!
Não! Te juro que eu não sabia
que as mulheres, quando amam,
às vezes, são quase santas,
pois se dão de tal maneira
que viram posse da gente;
e sofrem qualquer desgosto,
como se fosse normal!
Quantas noites de novena
te ajoelhastes ao pé do catre,
acariciando o rosário
pra que Deus me protegesse
naquelas domas de potro!
E dizer que em tantos anos de vida, vivendo juntos,
eu nunca voltei pra casa te trazendo alguma flor;
eu nunca chorei por ti nem nunca disse te amo!
Porque isso era fraqueza! E gaúcho?
Ah! Gaúcho é macho!
Não dá o braço a torcer,
pra prenda não tomar conta!
Como eu fui xucro, Mimosa!
Tu me deste mil motivos, e eu não soube ser feliz.
Tu querias ser amor, e eu não soube ser amigo.
Eu nunca te mereci!
Mas tu sempre acreditaste que eu era o que não fui!
Tu, sim, soubeste ser ao meu lado o que jamais eu seria:
uma santa de bondade e uma fonte de perdão!
Bueno! Chega de prosa!
Eu te trouxe as margaridas, que plantaste no oitão.
Não ligas se estou chorando, pois agora
eu sempre choro, quando chego e não te encontro.
Hoje eu criei coragem e vim dizer que te amo,
que eu sempre, sempre te amei!
Só pedes pra Deus, Mimosa,
que Ele também me perdoe.
E quando eu mudar de lado, e for translúcido e aéreo,
me concedas a eterna graça;
e deixe, em nome do amor,
que eu seja anjo... contigo!