
Dei luz à bruxa de pano,
nos partos da brincadeira;
e beijei cabelos de linha,
para mimar meu rebento!
Eu era a mãe mais "coruja",
porque tinha a filha única
que só eu sabia tê-la;
e coloquei todas as estrelas
no brilho dos seus olhinhos;
fui pediatra, curandeira,
professora e conselheira
na explosão dos meus carinhos!
Na casinha imaginária,
em que meus sonhos viviam,
não tinha muitas riquezas;
mas a luz da minha alma,
que iluminava as paredes,
plantava enormes jardins
nas janelas acortinadas.
Vesti-me de Cinderela
e fui Gata Borralheira,
para encenar nas brincadeiras
todos meus contos de fadas!
Haveria de vir um príncipe,
todo vestido de brumas,
e com seus lábios de seda
beijar-me o rubro das faces,
e me acordar dessa inocência!
Cabelos esvoaçantes,
no seu cavalo dourado,
ele apontou no horizonte,
para excitar os meus sonhos!
Foram ternos dias de encantos,
juras de amor e esperança,
que o coração da princesa,
absorto a tanta beleza,
perdeu a tez de criança!
Cabelos esvoaçantes,
no seu cavalo dourado,
ele sumiu no horizonte
para matar os meus sonhos,
deixando o sêmen no ventre,
que faria outra boneca
com o barro da realidade,
entre o tropel das tormentas
e a fúria dos vendavais!
Vou brincar de ser mamãe,
com uma filha de verdade!
Hei de vestir-me de Anita,
mesmo sem ter Garibaldi,
e escalar, pedra por pedra,
os muros desse infortúnio;
e essa bruxinha de pano,
nos braços da minha filha,
não mais vai ser filha única!
Esse rebento sagrado,
que vai nascer só com mãe,
vai ser o conto mais lindo
do meu mundo "era uma vez...",
pois vou por todas as estrelas
no brilho dos seus olhinhos;
serei pediatra, curandeira,
professora e conselheira,
na explosão dos meus carinhos!