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04/01/2010
23:13:13 |
ALVORECER COEMITÃ |
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Autor:
Júlio César Paim |
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Poesia enviada Por:
Suélen Melati - Guaporé / RS |
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Observações:

Quando o dia amanheceu,
havia um mistério no ar.
Era primavera, primeira vez
que as rosas brancas em botão
dançariam o baile do amor
no jardim da inspiração.
Mas, naquele dia, o sol
não amanheceu dourado;
amanheceu encarnado,
porque não havia mais ouro
nos cachos louros dos trigais
nem esperança na dança dos milharais
nem o alento ao vento das canções matinais.
Naquela manhã não havia a fantasia
de um botão branco de paz.
Aquele dia não parecia,
mas era o primeiro de primavera.
E amanheceu encarnado...
rubro... ensanguentado,
porque na noite anterior
eles passaram levando tudo,
não deixando quase nada,
nem mesmo a certeza de
outra alvorada.
Passaram feito um furacão,
sobre negros fletes-fantasmas,
trazendo nas mãos espadas
manchadas de sangue.
Passaram quase voando,
matando os pássaros,
arrancando as flores,
e incendiando a santa-fé
das casas-templos, de barro
amassados com os pés
de Anas... Marias... Joanas,
de Pedros... Josés;
de Joãos-de-Barro escultores,
senhores de arte da fé.
Mas eles esqueceram, à beira do caminho,
um ovinho no ninho.
E eles esqueceram, também,
em meio às cinzas do arrebol
de tarde de inverno anterior,
um pedacinho de sol:
calor maternal, chama de esperança...
... que na manhã seguinte
aqueceu uma sementinha,
perfume que se mantinha
no ventre da terra-mãe.
E aqueceu, também, o ovinho,
que naquela manhã,
a manhã seguinte se desfez
do pavor da guerra,
cuja a semente que a terra
guardou em canto... em flor.
A flor, que apesar de pisoteada,
soterrada, violentada,
se manteve perfumada
para tormendo daqueles
que preferem o cheiro da guerra;
a flor que teve forças
para renascer
e florescer quase do nada...
dos gritos livres
das bocas exangues,
que eles tentaram afogar,
em rios de sangue.
Aquele dia, o dia seguinte,
amanheceu assim:
o horizonte encarnado
e um anseio de paz em botão,
num mistério a desvendar,
que não há como matar;
e nele um desejo incontido
de perfumar... de voar...
de recriar... recomeçar...
reinventar tudo de novo.
E o pedacinho de sol,
que restara do arrebol, se fez chama latente
aquecendo o pequeno ovo,
que restou no ninho.
E o ovinho descascou...
e um pássaro voou e encantou....
e outro pássaro voou e cantou...
e outro... e outro... milhões de pássaros
voaram e cantaram em refrão pela paz.
E um botão branco de rosa se abriu...
e outro botão se abriu...
e outro... e outro... e outro surgiu...
rosas e rosas brancas
dançaram o baile das flores,
agitando o porvir.
E o vento minuano,
o coreógrafo pampeano,
fez-se invento, ventania...
criando a coreografia
encanto Tupi-guarani...
...que ao som de flautas andinas
e canções ameríndias,
elevou as pétalas brancas dançarinas
e o encanto dos pássaros, em refrão,
para a dimensão do sem fim,
como se o jardim da inspiração
fizesse dos pássaros em canto
e das pétalas brancas acalanto,
coreografias em forma de coração.
Coreografias pela paz,
criadas especialmente
para aquela manhã,
que amanheceu encarnada...
avermelhada... rubro cenário
para o voo libertário
dos pássaros em canto
e das pétalas brancas,
que não há como conter
no Alvorecer Coemitã! |
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