
O velho, a china e o piá,
num rancho beira-de-chão;
a miséria e a solidão
tinham invadido esse lar;
sem poder trabalhar,
as forças quase vencidas,
e, já no final da vida,
tendo um filho pra criar;
vivendo da caça e da pesca
o velho se envergonhava,
às vezes até chorava
uma dor que não lhe sai;
e pelo campo se vai,
para buscar alimento.
E o filho, no pensamento,
sempre a lhe dizer:
terminou a carne, pai!
Aquela voz do menino
levava sempre consigo;
e, sem merecer castigo,
na sorte sempre a confiar,
para junto dele ficar
até o final da sua vida;
queria ter força e comida,
para criar seu piá.
Um fazendeiro bondoso
deu-lhe um posto pra cuidar;
carne nunca vai faltar
nesse rancho abençoado.
- E, agora, tu já criado,
podes dar conta da lida.
Nunca faltará comida;
e diga ao patrão: obrigado!
- Muito obrigado, meu velho,
por teres me dado a vida;
junto a minha velha querida,
também quero agradecer.
Tudo o que fez vou fazer.
Peço licença ao Patrão:
que me estenda a mão
até a hora em que eu morrer.
E a velha, num banco baixo,
rememorando o passado,
vendo o piazito criado
espanta a dor que se vai;
e num pensamento cai,
relembrando com alegria:
- me lembro quando dizia
terminou a carne, PAI!