
Velho, sem retovos,
genuÃno na retina dos espelhos;
só o velho é sempre novo,
porque o novo imita o velho!
Mesmo a guitarra é sofrida
se é o novo que a embala,
sem a vivência das mãos.
O velho, não.
O velho a toma no colo
e com a vida nos olhos
tece carÃcias de amante,
pra encantar a solidão!
Não existe velho, velho,
pois a geada nos cabelos
é só mais um documento
assinado pelo tempo;
os dias se acumulam,
tingindo de luz o velo;
o moço que muda o mundo,
que de todo viveu tudo,
só então pode ser velho!
Os anos são que nem livros,
guardando sabedoria
pras futuras gerações,
e a memória um arquivo,
onde quem sabe estar vivo
vai buscar informações.
Por isto é preciso fibra,
por isto é preciso zelo;
não é porque o corpo cimbra
que um homem fica velho!
Há tanto guri já velho
e tanto velho guri;
tanto moço absorto,
que nem sabe que está morto,
mas já deixou de existir;
há tanto guri já preso
nessas drogas por aÃ,
e tanto velho bem teso,
ensinando ao desprezo
a arte de ser guri!
Velho não é o morto,
mas é tudo que está pronto,
o que a vida aperfeiçoou,
pois é somente a vivência
que vai moldando a experiência,
para transpor os estorvos;
é na idade mais nobre,
que o moço velho descobre
que só o velho é o novo!
Veja o exemplo das vinhas,
sorvendo luz das auroras
pra cor que o vinho vai ter;
guardando a brisa que toma,
para aviar o aroma
que vai gerar o buquê;
formando, com o sol e chuva,
todo o segredo da uva
que vai amadurecer;
e tudo só para a messe,
pois só depois que envelhece
é que o vinho vai nascer!
O novo nasce do velho,
em tudo quanto se cria;
na música, na poesia,
nesse modismo do povo.
O velho nunca envelhece,
pois sempre reaparece
pra novamente ser novo;
o moço é a vaidade,
em busca da perfeição,
a coragem, o fascÃnio;
é a força sem domÃnio,
é a chama da paixão!
O velho, não.
O velho é o esplendor,
é vinho que está maduro;
a ciência que o futuro
a gente faz no presente;
é mais amor que desejo,
por saber sentir num beijo
o que só um velho sente.
O velho é vida repleta,
é a obra já completa,
é a vivência total,
a total sabedoria
de se viver cada dia,
como se fosse o final!
Feliz do moço mais belo
que conheça algumas rugas,
pois a vida não se aluga,
ela é um dom de Deus.
Feliz do moço que chega
onde a idade se aconchega,
num par de olhos nublados;
onde a vida nos ensina
a andar pelos escuros;
que importa não ver futuro
quem, mesmo de olhos fechados,
enxerga todo passado,
onde escreveu sua história?
É bom que se deixe escrito
que ser moço é ser bonito,
mas ser velho é uma VITÓRIA!