A minha alma soluça
vendo as matas devastadas
e as águas puras, espelhadas,
ficando turvas e escassas;
e, a cada dia que passa,
a prepotência vencendo,
a alegria fenecendo,
crianças em abandono.
A dor que rouba meu sono
já não encontra acalanto.
A mágoa entoa meu canto,
a voz ficando embargada,
e nos olhos da madrugada
vislumbro gotas de pranto.
Pelas calçadas despidas
vejo retalhos de vida,
num vai-e-vem sem destino;
o tempo leva o menino
e um velho ocupa seu posto,
com cicatrizes no rosto
e o olhar em desatino.
Por isso, faço um apelo
aos homens da minha terra:
não deixem o campo tapera
buscando a grande cidade;
o brilho é só falsidade
campereando estradas nuas,
frustrando os raios da lua;
e os sonhos viram saudade.
Conservem a singeleza
que o ruralismo oferece,
a brisa fazendo prece,
para o dueto das águas...;
aqui, só gritos de mágoas
rasgando o frio das calçadas;
outros, em celas trancadas,
perdidos sem direção,
bebendo a poluição,
sem mate nas madrugadas.
Por isso, meu canto-chão,
mensagem - voz-oração
emponchando os quatro-ventos,
desatando tento a tento
deste pampa coração:
que a fraterna comunhão
tenha um porvir de esperança,
e a amizade uma trança
em cada aperto de mão.
Quisera eu que meu verso
fosse um manto de ternura,
levando luz e cultura
e uma ponchada de afeto;
servisse de colo e teto
pr’aqueles que nada têm;
fazer o sonho de alguém
tornar-se realidade,
com asas de liberdade
e a Estrela de Belém;
que a amizade florisse
a cada abraço ofertado;
ver o Rio Grande embalado,
com simples verso terrunho;
que a bandeira que empunho
tremulasse nas alturas,
que uma chuva de ternura
se inflacionasse no mundo,
e a paz, num lago profundo,
renasça da terra pura.
Bendito seja quem planta,
no ventre da terra santa,
sementes de trigo e pão;
benfazejo coração
de todo o agricultor,
que reconhece o valor
no ouro dos arrozais,
cultuando seus ancestrais
sem temer sóis e geadas;
benditas mãos calejadas,
que sustem o mundo; ...senhores
dormem beijando o luar...
e acordam colhendo flores!