Minha bruxinha de pano,
onde andarás nesta hora;
não sei se te joguei fora
ou te esqueci em algum canto.
Mas contigo eu brinquei tanto;
ficou do sonho a saudade,
guardada com ansiedade,
sufocada pelo pranto!
Naquele mundo inocente,
minha boneca singela,
eras a coisa mais bela;
tão feliz eu te embalava,
uma canção eu cantava,
brincando de te ninar;
fico agora a recordar
onde contigo eu brincava.
Tu, minha doce bruxinha,
que enfeitou minha infância,
os meus tempos de criança,
nos brinquedos de casinha;
com a minha bonequinha
eu montava o meu castelo,
pedacinho mais singelo
no sonho da garotinha!
Na incoerência da vida
o tempo passa voando,
e com ele carregando
pedaços da vida minha;
dos lindos sonhos que eu tinha,
ficou tudo na distância,
foi embora a minha infância,
levando a minha bruxinha.
Eu quisera, novamente,
te embalar em meus braços,
poder juntar os pedaços
que o tempo vai separando;
no faz de conta, brincando,
só me deixou a saudade,
que aquece a realidade;
e a vida vai nos mudando.
Na vida simples do campo,
onde a boneca de pano
é o brinquedo soberano
nos braços de uma menina,
descalça, sobre a colina,
corre sonhando acordada,
carregando entusiasmada
sua bruxinha querida!
Ainda sonho contigo,
com teus olhinhos pintados
e teu vestidinho enfeitado,
que fiz com tanto desvelo;
era de lã teu cabelo,
mas eu te achava bonita,
eras a minha bonequita,
da infância o meu sinuelo!
Perco-me em divagações,
sorvendo a doce lembrança
dos meus tempos de criança,
da minha amiga preferida;
tu não serás esquecida,
apesar dos desenganos,
minha bruxinha de pano,
pedaço da minha vida!