“Não estávamos, nós os jovensdo ‘Julinho’ e do 35 CTG, nos insurgindo contra as coisas do desenvolvimento, da liberdade, do progresso e nem éramos insensíveis à evolução. Mas queríamos, também, o direito de fixar as nossas coisas, de preservá-las, dar-lhes o digno mérito nos seus devidos lugares e momentos. Então, repetia-se interrogativamente: o que deveria ser feito para uma geração jocosamente chamada de ‘geração Coca-Cola’, ‘bombardeada’ por múltiplos impactos sócio-culturais do pós-guerra? Como juventude, nos perguntávamos: onde cultuar e divulgar nossos hábitos e costumes pastoris se era vergonhoso e anti-social aparecer à janela ou à porta da casa, na Capital Gaúcha, com o chimarrão à mão?Onde encontrar as manifestações do folclore nativo gaúcho?Como aprender o Pezinho, Maçanico, Balaio e tantas outras danças, se estes temas coreográficos eram desconhecidos do mundo tradicionalista?Que planos culturais estavam sendo programados à nossa querência, se não se publicavam livros sobre nossa literatura regional?Quais os organismos governamentais tratavam das origens rio-grandenses? Documentos não faltavam... E o ensino escolar, onde ficava diante de tudo isto? A visão era de uma enorme e difusa nebulosa sobre a cultura campechana. Nosso acervo tradicionalista-popular estava fadado a permanecer ignorado de sua própria gente, constituindo-se em escassas produções de escritores com vistas a temas predominantemente distanciados da terra rio-grandense. Havia um grande hiato do que ficara resguardado como herança autóctone, no aconchego dos ranchos, pelos rincões e pelos galpões fogoneiros do pago e as vivências urbanas cosmopolitas dos grandes centro culturais. Ao povo não era dada a sua real oportunidade de trazer a público suas manifestações pampeanas mais sinceras, mais puras(‘eram coisas de grosso’) e nós procurávamos ir ao encontro deste problema, porque nos sentíamos, como jovens estudantes sucundaristas, perdidos de nossas origens no sentido do regionalismo. Não havia nenhuma ligação maior de nossa História Regional com a vivência espontânea do povo, com seu “folk”, especialmente com o vivenciar rural, a não ser o marcantemente de caráter político-partidário, retratando épocas revolucionárias. A preocupação principal nossa, como jovens, repetimos, ‘era preservar, desenvolver, proporcionar uma revitalização à cultura rio-grandense, interligando-a mais valorizada no contexto da cultura brasileira’. Esses jovens lutavam por seus espaços e estavam decididos a conquistá-los, com o maior respeito, dentro do contexto sócio-cultural rio-grandense. Não pediam, se posicionavam, determinantemente. Procuravam a identidade da Terra Gaúcha!” (Paixão Côrtes, in Tradicionalismo Gauchesco – Nascer, Causas & Momentos. Ed. Lorigraf, Caxias do Sul: 2001)